As indústrias de produtos eletrônicos e automotivos tem se tornado cada vez mais exigentes com relação às informações recebidas de seus fornecedores sobre os minerais e metais que são utilizados em seus produtos finais.

Tais informações contemplam desde as fontes onde os minérios e/ou metais são adquiridos, até questionamentos quanto aos métodos de produção, se estes são ecologicamente responsáveis.

A tecnologia Blockchain permite que os dados sejam validados e, em seguida, armazenados em um “bloco” imutável em um banco de dados digital de propriedade coletiva e distribuída.

Cada um dos “blocos” gerados é validado tendo como base os blocos anteriores, tornando a alteração praticamente impossível. Isto é, com a modificação de uma transação gravada exigiria a alteração de todos os blocos anteriores, que são validados por meios de algoritmo.

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De forma ampla e simplificada, o blockchain assemelha-se a um banco de dados. Nele, podem ser incluídas informações como peso, quantidade, grau, informações de proveniência e certificados de produção responsáveis, por exemplo.

Estas informações podem ser carregadas no sistema, validadas nos pontos designados da cadeia de suprimentos e, então, vinculadas ao material físico associado a código de barras ou outras aplicações, utilizando Internet of Things – com etiquetas RFID, por exemplo.

Informações úteis, que podem ser compartilhadas com todos agentes da cadeia de suprimentos, até mesmo com consumidores finais e terceiros.

VANTAGENS

  • Construção de consenso e confiança com relação aos padrões de produção responsáveis entre as empresas envolvidas na cadeia de suprimentos;
  • Redução significativa de risco de fraude, tendo em vista a imutabilidade e controle descentralizado do sistema blockchain;
  • Facilidade de dimensionamento do blockchain para inclusão de outros produtores e cadeia de suprimentos adicionais, além daqueles já envolvidos inicialmente;
  • Possibilidade de definição de dados que podem ser disponibilizados em tempo real para terceiros, como compradores, auditores, investidores, entre outros;
  • Restrição para fornecimento de informações confidenciais, criptografando informações para compartilhamento com comprovação de fatos;
  • Redução de custos com insumos, como papel, devido à natureza sem papel do sistema blockchain, a redução potencial de auditorias e a redução nos custos de transações.

Dessa forma, as características específicas da tecnologia blockchain podem contribuir para a superação de barreiras da rastreabilidade, tais como a preocupação com confidencialidade, despadronização de sistemas, falta de digitalização, custos relacionados a administração e governança.

Empresas de diversos setores estão utilizando blockchain em suas cadeias de suprimentos. Esses caso apresentam possibilidades importantes e já testadas, para uma potencial aplicação no contexto do mercado de metais e minerais.

Permitir compartilhamento de dados geológicos entre fornecedores, detectar fraudes na cadeia de suprimentos de diamantes, validar a cadeia de fornecimento local com a ajuda de ONGs, certificar a confidencialidade na cadeia logística de produtos químicos e identificar de forma ágil a possível contaminação de alimentos em toda a extensão da cadeia de suprimentos, são algumas das vantagens que empresas de diversos segmentos tem usufruído, utilizando a tecnologia blockchain.

DESAFIOS

Em contraponto, como toda tecnologia disruptiva, o blockchain encontra alguns desafios no setor de mineral, tais como:

  • Consenso em torno de dados e padrões de produção responsáveis entre empresas com diferentes posições com relação ao grau de risco na cadeia de suprimentos;
  • Desafios técnicos na inserção de dados;
  • Transformar sistemas CoC** não padronizados e baseados em documentos impressos, em sistema digital;
  • Investimento necessário, devido à capacidade de computação necessária e custos operacionais;
  • Complexibilidade de agregação, mistura e processamento de minerais e metais, que dificultam controle dos fluxos de materiais.

Em suma, o blockchain não deve ser visualizado como um passe de mágica que pode resolver todos os problemas estruturais existentes na gestão da cadeia de fornecimento de minerais e metais.

Contudo, os potenciais benefícios que um banco de dados blockchain compartilhado apresenta para a transparência e rastreabilidade ao longo das cadeias de suprimentos são significativos.

A tecnologia blockchain pode auxiliar e incentivar a produção responsável, além de criar confiança entre parceiros, reduzindo tempo e custos das operações.

Mais do que isso, o blockchain pode facilitar o esforço da indústria mineral visando aumentar a transparência em toda a cadeia de suprimentos dos recursos minerais face à crescente conscientização e exigências públicas.

*RFID – Radiofrequency Identification – em português, Identificação por Radiofrequência – é uma forma de comunicação sem fio que incorpora o uso de acoplamento eletromagnético ou eletrostático na porção de radiofrequência do espectro eletromagnético para identificar exclusivamente um objeto, animal ou pessoa. Definição disponível em: www.internetofthingsagenda.techtarget.com . Tradução Livre.

**CoC – Chain of Custody – em português Cadeia de Custódia – refere-se a todas as etapas da cadeia de suprimentos de determinado produto, incluindo minérios, transportadores, exportadores, processadores e fabricantes. Fornece registro da sequência de entidades que têm a custódia de minerais à medida que são movimentados na cadeia de suprimentos, permitindo rastrear um material desde sua origem. Um sistema de CoC credível apoia a veracidade das declarações de origem mineral, incluindo documentação como o certificado de origem da mina, documentação de transporte, registros de exportação e importação, além de registros de fábrica. Definição disponível em: www.responsiblemineralsinitiative.org . Tradução Livre.